domingo, 26 de dezembro de 2010

As pequenas curas no dia a dia.

A alma feminina, como um todo, está cronicamente ferida e sente muitas dores. Uma delas, muito evidente, é a que eu chamo de 'Dor de Mãe'. Há outras, porém, o muito fortes na vida da mulher além desta - são a 'Dor de Amor', a Dor do Abuso e o que se poderia chamar de 'Complexo de Mulher Maravilha'. Eu as quero comentar nos posts futuros. 

No entanto, talvez porque eu a tenha sentido na pele mais do que as outras, acho que a 'Dor de Mãe' é uma das que dóem mais. Não sei porque nem quando ela começou a assolar a alma da mulher, mas sei o quanto é forte. O advento da maternidade na vida dessa filha sofrida oferece a ela uma oportunidade de ouro para entender, resgatar e curar essas vivências sofridas, re-significando todas as perdas e frustrações através de sua própria filha. Claro que este feito é muito difícil de se realizar já que exige muita consciência do outro e auto conhecimento, mas mesmo que se tenha conseguido fazê-lo, ainda pode-se sentir doer as cicatrizes dessa feridas sempre que o tempo muda.

O que eu não sabia até ontem é que por trás de todas as palavras impensadas, da falta de pedagogia e dos tapas incoerentes estão as outras duas Dores.  A alma da mulher está ferida e suas filhas perpetuam essa dor, geração após geração.São as castrações, as mutilações, o complexo de inferioridade, as invasões... e começa tudo de novo. Mas sei que no futuro essas dores vão ser todas curadas...

Ontem estive com minha mãe. Almoço de Natal com comidinhas, conversas de superfície e tudo o mais. Apesar de ser um lugar pouco provável para um resgate de mais de 30 anos,no momento em que eu menos esperava, pude acessar e colocar um pouco de bálsamo na ferida dela e na minha.

 Consegui quantificar a dor da minha mãe, nas invasões, na violência, no descaso e abandono que ela sofreu e percebi quão difícil deve ter sido para ela e pior do que isso, eu notei que pela riqueza de detalhes que ela narrava alguns dos fatos ocorridos, e pelos suspiros que intercalavam cada episódio, ela ainda sentia a intensidade de cada golpe.
 
Ela não havia superado a sua dor, talvez não tenha tido ajuda de alguém que entendia sua dor, quem sabe? Só sei que aos quarenta, eu estava escutando a mesma estória que, aos quatro, eu escutava enquanto ela chorava no meu colo.

Meu coração encheu-se de compaixão, o que me deu mais força ainda para perseguir o meu anseio: ajudar na cura do feminino. Acolher e passar o bálsamo da compreensão, oferecer ajuda no fortalecimento, e rir com alegria a cada batalha ganha.

A dor que eu senti por tanto tempo, me ajudou a entender e às vezes até sentir a dor das minhas irmãs. A dor me mostrou que se nos unirmos e ajudarmos umas as outras a curar nossas feridas poderemos estar preparadas para um novo tempo. Um tempo quando todas as mulheres (o feminino) possam compartilhar com todos os homens (o masculino) a beleza da vida com igualdade, respeitando as suas diferenças e honrando um ao outro com amor e admiração.

 Gratidão por sua presença aqui!