quarta-feira, 6 de junho de 2012

Pé ante pé...


Antes era um pé atrás do outro, todos os dois distraídos... Talvez quisessem ter vida própria e se separar do resto do corpo... Queriam coisas...talvez quisessem independência...talvez.
De repente, tiveram o que quiseram. Os fios que os seguravam e os prendiam ao corpo se romperam... Muita dor, muita. Afinal todas as rupturas são doloridas. E o corpo todo chorou. Mas eles, não... Era isso que queriam, não? E assim o tiveram.
No começo a raiva, depois a resignação... Afinal, não era para ser assim! Deveria ser mais divertido...
Mas o tempo tem o dom de mostrar tudo o que estava escondido, e pouco a pouco, e eles viram tudo... Não que estivessem errados, não... Mas finalmente perceberam que podiam convencer o corpo a acompanhá-los... Quem sabe o corpo pudesse finalmente entender não era tão perigoso como parecia... Afinal, não tinham nada a perder. Era a única chance que tinham.
Então começou a discussão. Os pés foram alvejados por mil perguntas e receberam toda sorte de críticas: Vocês estão ficando loucos? O que os outros vão pensar? Não vai ser fácil! Não sei se damos conta... E o futuro? E as coisas que vamos perder? E a segurança?
Foram longas noites de conversas, meditações, conjecturas... Então deu-se o milagre: do pensamento puro, migraram, o corpo e os pés, para o sentimento e finalmente ouviram a voz do coração e do ventre que até aquele momento não haviam se pronunciado.
O coração e o ventre, bem no íntimo, concordavam com os pés, mas a verdade tinha que ser dita: acharam que tinha sido muita imprudência agirem sozinhos. Todo mundo sabe que em todos os relacionamentos há de haver consenso! Então juntos decidiram... e a partir daquele momento, mente, coração, ventre... e pés seguiriam, juntos.
Toda aquela democracia tinha levado tanto tempo, que já era hora dos pés voltarem a andar... Já tinham se curado, aprendido. Tinham sido acolhidos, amados...perdoados.
E começaram a andar. Nossa! Já haviam até se esquecido de como se faz...  Às vezes um pé ensinava o outro como fazer... Tem que relaxar. E seguir. Preste atenção! Vá devagar, pelo amor de Deus, com calma!
E com paciência, e um pouco doloridos – o recomeço às vezes também é dolorido – eles seguiram, certos de que eram amados... Sentiam-se parte de um time... Iriam todos juntos, pra ganhar ou para perder, não importa, mas todos SEMPRE juntos... E seguiam, um pé após o outro, como tinha que ser...

Nenhum comentário:

Postar um comentário