Antes era um pé atrás do outro, todos os dois distraídos...
Talvez quisessem ter vida própria e se separar do resto do corpo... Queriam
coisas...talvez quisessem independência...talvez.
De repente, tiveram o que quiseram. Os fios que os seguravam e os prendiam ao corpo se romperam... Muita dor, muita. Afinal todas as rupturas são doloridas. E o
corpo todo chorou. Mas eles, não... Era isso que queriam, não? E assim o
tiveram.
No começo a raiva, depois a resignação... Afinal, não era
para ser assim! Deveria ser mais divertido...
Mas o tempo tem o dom de mostrar tudo o que estava
escondido, e pouco a pouco, e eles viram tudo... Não que estivessem errados,
não... Mas finalmente perceberam que podiam convencer o corpo a acompanhá-los...
Quem sabe o corpo pudesse finalmente entender não era tão perigoso como
parecia... Afinal, não tinham nada a perder. Era a única chance que tinham.
Então começou a discussão. Os pés foram alvejados por mil
perguntas e receberam toda sorte de críticas: Vocês estão ficando loucos? O que
os outros vão pensar? Não vai ser fácil! Não sei se damos conta... E o futuro?
E as coisas que vamos perder? E a segurança?
Foram longas noites de conversas, meditações, conjecturas...
Então deu-se o milagre: do pensamento puro, migraram, o corpo e os pés, para o sentimento
e finalmente ouviram a voz do coração e do ventre que até aquele momento não
haviam se pronunciado.
O coração e o ventre, bem no íntimo, concordavam com os pés,
mas a verdade tinha que ser dita: acharam que tinha sido muita imprudência
agirem sozinhos. Todo mundo sabe que em todos os relacionamentos há de haver
consenso! Então juntos decidiram... e a partir daquele momento, mente, coração,
ventre... e pés seguiriam, juntos.
Toda aquela democracia tinha levado tanto tempo, que já era
hora dos pés voltarem a andar... Já tinham se curado, aprendido. Tinham sido
acolhidos, amados...perdoados.
E começaram a andar. Nossa! Já haviam até se esquecido de
como se faz... Às vezes um pé ensinava o
outro como fazer... Tem que relaxar. E seguir. Preste atenção! Vá devagar, pelo
amor de Deus, com calma!
E com paciência, e um pouco doloridos – o recomeço às vezes também é dolorido – eles seguiram, certos de que eram amados... Sentiam-se parte de
um time... Iriam todos juntos, pra ganhar ou para perder, não importa, mas
todos SEMPRE juntos... E seguiam, um pé após o outro, como tinha que ser...
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